A Hora do Meio-Dia: "ofuscante, tanta claridade oculta o mito e deseja a noite", diz a própria cantora e compositora referindo-se à ideia que permeia o título do disco.

E o nome do disco é o nome da primeira música. Luama abre seu show declarando inconformismo, cantando sobre seu lugar e ao mesmo tempo sobre sua exclusão. Depois, acontecem as outras onze músicas: registros do momento único que foi a temporada de shows no Espaço dos Satyros em São Paulo.

No disco não há retoques. Luama já diz no encarte: "isto é registro cru; toque sem retoque: pedra". Ela simplesmente está presente. Mas ela quer estar inteira, bem próxima do momento original, a despeito dos "aparelhos canhestros" de fixação e reprodução do som.

Apenas as composições de outros autores foram suprimidas do show original para o cd. Neste disco ficou Luama. Metade do som é só ela: melodia, ritmo, letra, voz e violão. Na outra metade a música se preenche de outros instrumentos: percussão no cajón, contrabaixo, sax, trompete, scratches e ritmo eletrônico.

Esses timbres e tempos passeiam por rocks, sambas, "jazzes", todos misturados, amalgamados pela liga da vitalidade autoral de LUAMA. Seu som se constrói pela gênese: ouve-se uma clara e inevitável busca pela originalidade. Música que se faz pelos desvios em certas receitas sem negar referências. Estas são, antes, utilizadas como tesouros na composição.

É por trilhar esta via nos desvios que LUAMA encontra o samba na eletrônica "Tarde pra você", protesta com o rock nos sambas "Alucinada", "Figura" e "Viva, a Alegria Vai Chegar". Faz ainda jazz no samba eletrônico "Noites de Mim"; jazz na instrumental "Gancho". Samba no funk "O gato mesmo". Valsa no rock "Disfarce". Antigas e lentas solidões rock-jazzísticas em "Vinho e Fumaça", "Mais-que-perfeito" e "Traço".